Amigas para sempre



Marcus Vinicius Batista

Quando minha mulher, Beth, estava internada, eu estava todos os dias na Beneficência Portuguesa. O hospital permitia dois acompanhantes na visita, e meu companheiro de corredores, elevadores e UTI era meu sogro, Lauro.

Ao final da visita, atravessávamos o canal 2 para pegar o ônibus de volta para a Aparecida. Ali, duas linhas como opção: 54 e 194. Num dia, apanhamos o 54 e nos sentamos no fundo do ônibus. Uma mulher, na faixa dos 50 anos, entrou conosco e se sentou dois bancos à frente, ao lado de uma moça com metade da idade.

Gosto muito de me sentar no fundo do ônibus. Não sei exatamente o motivo, mas me permite uma visão mais privilegiada da viagem, embora sem utilidade prática. Talvez somente apreciar a vista e achar outro ângulo no mesmo roteiro arquitetônico.

Levo sempre um livro como distração, mas - neste caso - soaria grosseiro apenas ler com meu sogro ao lado. Aliás, as conversas sobre tempos antigos sempre rendem bons "causos".

A questão é que as viagens de ônibus ficaram silenciosas. Eventualmente, alguém abre a boca para falar, mas não dá para escutar o interlocutor, ausente do local dos fatos. Prevalece a conversa telefônica, uma exceção no silêncio de velório.

A maioria parece estar com torcicolo, com dores no pescoço. Muitos não conseguem olhar pela janela, como se fossem cidadãos exemplares em cumprimento de lei municipal que determina a cabeça somente virada para baixo. Questão de segurança. Os olhos fixos nos celulares e variações eletrônicas, com dedos frenéticos que tocam o teclado ou apenas com o dedo anular para observar o quase nada da rede social.

Na altura do Canal 3, voltei a observar a mulher que subira conosco no ônibus. Ela e sua amiga também passageira teclavam sem parar em seus celulares. As pernas de uma encostadas nas pernas da outra. Ombros que às vezes se chocavam com o ônibus sacolejante. E as cabeças, paralisadas.

Dois pontos depois, a mulher mais velha se levanta e puxa a corda. Quando faz este movimento, esbarra na moça do lado e se vira para pedir desculpas.

— Puxa, desculpe! ... Paula, é você? Tudo bem? Como está sua mãe?

— Maria, tudo. Quanto tempo! Como não te vi ...

— É... Eu também não te vi. Sabe, a correria ... Pena que não deu tempo de conversar. Tenho que descer. Tchau!

— Tchau!

Olhei para meu sogro, também testemunha do não-encontro. Ele apenas sorriu como quem sentira um novo "causo" cair no colo.

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