Você

Marcus Vinicius Batista

Nunca acreditei em amor eterno. Também não creio em múltiplos amores. Minha crença, baseada em tropeços e saltos adiante, se sustenta na renovação do amor. No cultivo constante, na adaptação contínua de quem muda com a experiência, com as desavenças, com a história individual e a história escrita em conjunto. A dois.

Você me ensinou estas lições sem querer, como fazem os melhores professores. Você me deixou construir um relacionamento sem impor o rumo, sem estabelecer o caminho, sem definir a intensidade do aprendizado.

A primeira delas foi a cumplicidade. Dividir derrotas, compartilhar vitórias. Respeitar os desejos e sonhos individuais, lutar para edificar as vontades geradas por nós dois. O cúmplice, você me mostrou, não é aquele que vê no outro uma válvula de escape para repartir o fracasso. O cúmplice é aquele com quem nos importamos e – dependendo do caso – nos sacrificamos sem cobrar nada depois. Sem reforçar o auxílio para saboreá-lo e se sentir melhor por conta disso.

A segunda lição – desconfio que esta nasceu sem pai ou mãe definidos – é o diálogo como alimento. Uma vez, ouvimos de alguém que nós passávamos a impressão de nunca brigar. Apenas sorrimos diante de tamanha distância do mundo real. Nós brigamos, mas lutamos para não carregar destroços de guerra. Aliás, sequer transformar em conflito bélico.

Você me mostrou a necessidade de usar o silêncio somente quando necessário. Falar sobre o que se sente, ainda que sob código ou pseudônimo. Expor quando se está descontente. Conversar para resolver, jamais para marcar uma reunião burocrática. Não cabe aqui enumerar as sessões de boxe verbal, apenas no instante em que se pode rir sobre elas ou, quem sabe?, aprender com elas.

Sinto-me orgulhoso de, na maioria esmagadora dos casos, conseguir solucionar uma crise em 24 horas. As mais profundas não fogem às conversas, com a consciência de que as palavras refletem a injustiça de uma cabeça quente ou de um muro de longo prazo que não é tratado no tempo certo.

Você é mestre em confirmar minhas teorias, todas sem valor científico, mas completas na afetividade. Você confirma a tese de que só podemos saber que uma mulher é linda realmente quando ela acorda. Você passou na minha banca quando defendeu com louvor a ideia de que sexo com amor é demasiado profundo para quaisquer racionalizações.

Você se doutorou ao provar que um amor se constrói também com o perdão, com a vontade concreta de se começar outra vez se a casa ameaça ruir. Você é PHD na teoria de que maternidade nada tem a ver com biologia, mas com sentimentos, compreensão, atitudes cotidianas sem a reflexão de que os dividendos ou a resposta do outro serão imediatas.

Escrever para você no Dia dos Namorados é, para nós, uma justificativa quase inexistente. Nós nos expomos um diante do outro no dia a dia e escrevemos ao sentirmos que se faz urgente. O Dia dos Namorados seria, para o leitor desconhecido, o motivo. Não, ele é mais um motivo.

Sempre desconfiei da obrigação social de dar presentes exclusivamente nas datas comemorativas. É claro que o faço porque você também se preocupa com elas e pelo fato de que temos inoculadas em nós as expectativas construídas pelo alheio. Aproveitamos a oportunidade para reforçar o que nos une. Você me indicou assim!

Como você mesma me disse, encaro essas situações com mais naturalidade, sem certos pudores alicerçados nas convenções sociais. De fato, entendo que os presentes nascem para as pessoas e assim ajo diante de você. O presente aparece para mim e se oferta para que seja levado a ti. É a sua cara, imagino. Errei algumas vezes, mas o tempo – deixando de lado o orgulho que emburrece os teimosos – se encarregou de melhorar minha margem de acertos.

Este texto é um dos meus presentes! Combina com você! Tomara que aceite e goste!

Comentários

André Rittes disse…
Bonito e, acredito mesmo, sincero. Longa vida a dois ao casal. Posso dizer que faço parte desta história verdadeira e que ainda quero ver ir muito longe. Beijos e muitos carinhos sem ter fim...