Entre naturebas e xampus, um passeio na farmácia


Leonardo Marques Silva*

Como uma pessoa que, na maior parte do tempo, não se encontra doente, eu vou pouquíssimas vezes até farmácias. Talvez seja o caso da maioria das pessoas. Talvez? Com exceção dos funcionários das farmácias, e de alguns raros hipocondríacos, não consigo imaginar o porquê de se visitar tais estabelecimentos por muito tempo ou, então, com muita freqüência.

Entretanto, existem aqueles que se perdem dentro do local. A procura de um simples remédio contra alergia, uma pessoa, não familiarizada com o ambiente, parece se encontrar em uma selva. Desbravando as centenas (bem, não tantos assim) de corredores, rodeado por centenas de produtos, multicoloridos e com funções desconhecidas, esse tipo de gente consegue, com certo esforço, encontrar o tão sonhado medicamento.

E os naturebas? Creio que todos conhecemos pelo menos uma pessoa assim. Sabe? Aquele tipo de cliente que consome, exclusivamente, produtos considerados “verdes”, desde alimentos a cosméticos. Sim, extremamente magras.

O próximo tipo de gente são aqueles que invejam os naturebas. Não pela abdicação de boa parte da comida não saudável (e, sejamos sinceros, deliciosa), mas pelo resultado. São aquelas pessoas que vivem à procura de um remédio miraculoso, o Santo Graal da Medicina moderna. A cura de uma doença terminal? A busca interminável, porém, incessante, por uma forma de emagrecer sem esforço. Não creio que tal jornada dê algum resultado, mas devo admitir que sinto um pouco de inveja de tamanha perseverança.

Na seção de produtos de higiene, é possível encontrar dois tipos de consumidores. Temos aqueles (normalmente mulheres) que analisam, minuciosamente, cada informação da embalagem dos produtos, levando minutos para se decidir entre as dezenas de tipos de sabonetes, xampus, condicionadores e outros.

Sinceramente, não posso dar exemplos mais aprofundados porque faço parte do segundo grupo de pessoas: aqueles que não fazem ideia da diferença entre os produtos (normalmente homens). Nós raramente lemos qualquer coisa que esteja escrita nas embalagens. Nós mal sabemos diferenciar xampus de condicionadores. Nós, na maioria das vezes, escolhemos aquilo que é o mais barato. Sim, nós temos certeza que esse é o jeito certo.

Existem aqueles que entram com pressa, normalmente suando e, algumas vezes, com o rosto completamente pálido. O ponto em comum é o desespero para conseguir determinado produto. Há o “efeito surpresa”, agradável ou não, no meio da noite. Tal surpresa pode levar a uma compra apressada de preservativos ou de testes de gravidez. Um agradecimento às farmácias que funcionam 24 horas por dia.

Farmácias são, hoje, como supermercados. Diversidade de produtos, cores e finalidades. Mercadorias que pouco se parecem com remédios. Muitas vezes não o são. Farmácias, o playground de uma sociedade doente?

Obs.: 13º texto da série que nasceu do curso "Como escrever crônicas". 

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