Despedida


Este é último texto da série, iniciada em fevereiro deste ano. Foram 17 crônicas de Dona Zuleica e, como encerramento, a homenagem de uma antiga amiga. 

Dona Zuleica, a vovó Zuzu

Daisy Simões

De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh'alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa Zuzu
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Zuleica, Minha mãe pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto

Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Zuleica, minha Mãe, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Uai, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a minha Zuzu
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um manto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Deságua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim

Certa vez um velho amigo me disse que a orfandade é dolorosa e injusta em qualquer idade. Mães não deveriam morrer. Sempre me lembro dessas palavras quando vejo ir embora uma mãe tão dedicada e cuidadosa, que viveu para a família.
Minha amiga Zuleica, de tantos anos e confidências, partiu esta semana, deixando comovidos todos os seus familiares e amigos.

Compreendo que nada será como antes, já que os filhos não mais poderão recorrer aos ensinamentos e abraços calorosos. Mas será possível sim preencher o vazio do coração com as lembranças lindas que ela deixou. As pessoas partem, mas as suas histórias ficam. E Zuleica, que adorava livros e filmes, que se encantava com belas histórias, também deixou a sua muito bem escrita.

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