Quarta-feira de cinzas


Banho da D.Doroteia, em Santos (Arquivo: J.Muniz Jr.)

Zuleica Maria O.A.Batista

Ainda criança e, já adolescente, não me recordo de carnaval. Talvez por morar em uma cidade pequena e pacata lá no interior de Minas Gerais, onde nem clube existia. Carnaval, então, nem pensar.

Naquela época, só os circos que passavam por lá.

Lembro-me que esses circos tinham um serviço de alto falante que tocavam músicas variadas. Foi o que me valeu ouvir essas músicas. Em minha casa, não tínhamos rádio, mas me recordo de que aprendi várias marchinhas de carnaval por meio desses circos que montavam suas lonas em um terreno vazio perto da minha casa.

Nem sabia o que eram marchinhas de carnaval. Aliás, só vim descobri isso, bem mais tarde, com 16 anos, quando me mudei de Luz – MG, onde nasci, para Santos – SP. Eu era ainda uma menina do interior e não foi fácil me adaptar.

Descobri com atraso a folia do carnaval. Foi quando meu horizonte se expandiu. Comecei a frequentar os bailes de carnaval nos clube aqui em Santos. Era um divertimento em família com certa ingenuidade do século passado, com bandas tocando marchinhas carnavalescas simples que são tocadas e cantadas até hoje. Talvez daí venha todo o frescor com relação à simplicidade dos carnavais nos anos 60 e 70.

Percebo diferenças profundas daquela época para hoje. Arisco a dizer que, numa releitura, daria um excelente filme em preto e branco com muito romantismo.


Antigo corso pelas ruas de Santos
(Foto: Fundação Arquivo e Memória)

Atualmente, a grande incógnita está em saber o que é melhor, o carnaval de hoje que é um show de luzes e cores no sambódromo durante os desfiles das escolas de sambas ou os blocos de antigamente com banho de água, buscando só divertimento.

Cheguei à conclusão que sou uma perdedora da folia. Estou atrasada 16 anos. E por conta disso, dou um grito longo, silencioso e interno. Segurem o tempo que eu quero passar! Plagiando... Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR.

É preciso lembrar, recordar e não esquecer. Não quero perceber nesse último momento que minha vida foi consumida, pois tenho sentido falta de viver o que vivi.

Quarta-Feira de Cinzas me faz lembrar de um retiro espiritual para adultos, onde as pessoas ficavam confinadas durante quatro dias na casa paroquial, isoladas, sem se comunicarem umas com as outras, só rezando. Minha mãe fazia parte desse grupo.

Recordo-me também de ir à missa na Quarta-Feira de Cinzas e participar daquele ritual litúrgico de levar uma cruz de cinzas na testa. A pergunta, então, é: se nas quatro noites anteriores não se pulava carnaval, por que ir à Igreja para pedir perdão dos pecados terrenos e materiais? Desculpa, mas como Católica Apostólica Romana (não praticante) reconheço que não é um sentimento elevado.

22/02/2012

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