O desapego virou "corujice"


Por Elaine Brazão*

Mateus e Lucas, para muitos, seguidores de Deus, são os nomes de duas pestes que aguento em casa. Tenho cinco irmãos, mas confesso que os que dão mais trabalho são esses dois, justo os que tem o nome de santo. Ainda mais agora que estão na fase de namoradinha na escola (um dia ainda mato essas periguetes!), querendo ir ao cinema com os coleguinhas, voltar tarde pra casa... Para piorar, um toca violão e o outro teclado. Ou seja: “as mina pira”, vejo que minha dor de cabeça está só começando!

Mateus é o maior, tem 11 anos, mas parece que tem 9; às vezes, 13. Lucas tem 9, mas parece que tem 12; às vezes, 15 anos. Esse último tem o dom de irritar qualquer pessoa em dois minutos. É daqueles que você está conversando e ele chega cantando “We are the Champions”, crente que é tão bom quanto Fred Mercury.

Mateus sempre quer impressionar pela inteligência. Sempre tira conclusão sobre os fatos que aconteceram no Brasil e no mundo. Um dia até falou sobre a cotação do dólar. Mas quando tira essa casca, mostra-se uma criança nata - tão ou mais infantil que o Lucas – começa a pular, gritar, coloca fantasia, põe rock bem pesado e usa o inglês a la Joel Santana.

Lembro-me deles pequenos, quando davam beijo na irmã e na mãe antes de dormir, perguntavam se a roupa que escolheram estava combinando. Hoje, os vejo se enchendo de perfume, desodorante e saindo para casa dos amigos para fazer “trabalho”. Sem contar que agora os almoços também mudaram, estão acompanhados de arrotos e gases entre um copo ou outro de Coca.

O Discovery Kids foi substituído pelo History, na tentativa de passar a imagem de que estão grandes, triste ilusão, pois nem a legenda conseguem ler a tempo. Mas é aquela coisa: eles fingem que entendem e nós fingimos que acreditamos.

Não quero nem ver quando chegarem aos 17, 18... Espero estar trabalhando para não ter tempo de saber das histórias.

É, tá aí uma coisa que nunca pensei que seria: aquela irmã chata que sofre com o crescimento dos mais novos, que luta para que eles sejam os eternos bebês da casa. Classifico como inadmissível a ideia, de um dia aparecem, com namoradas ou às cinco da manhã pós-balada. Quanto a isso, tenho apenas um desejo: que eles cheguem logo aos 50, provavelmente estarão casados, com filhos e a fase “bobeira” já terá passado. Ilusão pode e deve andar lado a lado de uma irmã, não?

* Elaine Brazão é estudante de Jornalismo da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), em Santos (SP). 

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