A vez de Andy



Por Natássia Massote*

E Andy Murray finalmente desencantou. Ao conquistar o US Open, o escocês superou seus fantasmas e, enfim, se firmou entre os grandes. Embora Murray figure há 5 anos como um dos protagonistas do circuito, o título de Grand Slam era o grande vazio de sua carreira. Após disputar quatro finais sem vencer, o tenista se libertou dessa pressão ao derrotar o sérvio Novak Djokovic, último campeão, com parciais de 7/6 (12-10), 7/5, 2/6, 3/6 e 6/2.

A final do último Slam do ano foi esquisita e, embora jogo disputado, o nível técnico ficou aquém da capacidade dos tenistas. No começo da partida, o vento causou insegurança nos jogadores, que se limitavam a troca de bolas sem riscos. Fato a se estranhar já que Djokovic e Murray se conhecem bem e não ficam receosos em tomar a atitude no ponto. Mesmo com as condições estranhas, Murray foi mais consistente e, apesar de oscilar para fechar games decisivos, se manteve firme para levar os dois primeiros sets.

Entretanto, do outro lado estava o sérvio, que não gosta de entregar partidas sem maiores dificuldades. Djokovic provou o seu respeitado foco mental ao empatar o jogo em sets, buscando ser mais agressivo, mas também contando com os apagões do escocês. No quinto set, enquanto muitos apostavam que Murray iria desabar emocionalmente, ele mostrou porque veio para ficar: saiu quebrando Djokovic duas vezes seguidas, que combalido e exausto fisica e psicologicamente, não conseguiu evitar a grande façanha do escocês.

A mudança de Murray vem sendo notada ao longo da temporada. Ainda que não houvesse dúvidas sobre sua espetacular capacidade e talento, ele sempre sofreu com o desequilíbrio emocional, protagonizando martírios dentro de quadra e sofrendo viradas inacreditáveis. Mesmo já conquistando oito Masters Series e 24 títulos, um jogador do gabarito dele merecia um Slam – o maior reconhecimento para um tenista.

E quem foi fundamental para a evolução de Murray foi o gélido Ivan Lendl . O escocês começou a ser mais agressivo, a confiar mais em si e a ter paciência nos jogos. Embora ainda fique mais confortável na defesa, Murray começa a explorar seu vasto arsenal técnico e a usá-lo com inteligência.

Com a medalha de ouro nas Olimpíadas em cima do suíço Roger Federer e o título do US Open sobre Djokovic – cabeças 1 e 2 –, Murray provou que pode vencer grandes títulos e brigar pela liderança. Porém, toda moderação é necessária. O escocês não é obrigado a provar nada e deve seguir com cautela e concentração num circuito cada vez mais equilibrado.

Este ano tivemos quatro vencedores diferentes nos Slams (Novak Djokovic – Australia Open/ Rafael Nadal – Roland Garros/ Roger Federer – Wimbledon / Andy Murray – US Open) – algo que não se via desde 2003. O resto de temporada vai ser apimentado e deve contar com a briga pela liderança do ranking e a disputa árdua entre os tops. Para quem estava acostumado com a dominância de Federer-Nadal-Djokovic, os próximos torneios da ATP prometem duelos interessantes.

O orgulho britânico/escocês

Se Andy Murray já agradou os gran-bretanhos  com a conquista das Olimpíadas, agora ele definitivamente os conquistou. Após fazer história nos Jogos de Londres, o tenista também marca o esporte com a conquista do US Open. A Inglaterra, o berço da modalidade, com tradição respeitável, não conquistava um Slam desde Fred Perry, em 1936 – amargos 76 anos. As coincidências entre os dois britânicos são surpreendentes:


Fred Perry
Andy Murray
Data de Nascimento
18/05/1909
15/05/1987
Signo
Touro
Touro
Primeiro Slam
Us Open
Us Open
Data da vitória do Primeiro Slam
10/09/1933
10/09/2012
Ranking durante o torneio
#3
#3
Ranking do oponente da final
#2
#2 – Novak Djokovic
Oponentes da final venceram o Australian Open do mesmo ano
Jack Crawford
Novak Djokovic
  
* Natássia Massote é jornalista. 

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