A arma contra vereadores

“Foz do Iguaçu quer mais viadutos. Não precisa de mais vereadores.” As duas frases compõem um dos 18 outdoors espalhados pela cidade paranaense. Foz do Iguaçu é uma das 20 cidades brasileiras onde tramitaram projetos de lei que aumentam o número de cadeiras no Legislativo. A mudança valeria a partir da próxima eleição, no ano que vem.

Em Foz e outros três municípios, os vereadores recuaram por medo das urnas. Em São José do Rio Preto (SP), houve protestos. Em Novo Hamburgo (RS) e Governador Valadares (MG), moradores juntaram assinaturas para anular o projeto.

Na Baixada Santista, dois exemplos distintos. Em São Vicente, os vereadores retiraram a proposta na última quinta-feira. A cidade seguirá com 15 representantes no Poder Legislativo. Os motivos ainda são nebulosos. São Vicente seguiu o caminho de Mongaguá, Itanhaém e Bertioga, que rejeitaram projetos semelhantes.


Do outro lado da ilha, os vereadores santistas aprovaram, em primeira discussão, o aumento de 17 para 21 cadeiras na Câmara Municipal. A vergonha reside no fato que a votação se deu em caráter simbólico. Ou seja: nenhum vereador teve a decência de declarar o voto em plenário. Santos se junta à Praia Grande, Cubatão, Guarujá e Peruíbe, que incharam suas Câmaras.

Os parlamentares apenas confirmaram o empurrão dado por deputados federais e senadores, no ano retrasado, quando foi aprovada emenda constitucional que permitia a criação de novas vagas. A decisão delegava aos municípios a tarefa de decidir se haveria ou não mudanças no número de cadeiras. A Constituição define apenas o limite máximo.

A jogada no Congresso Nacional permitiu de muitos vereadores movessem suas peças com tom de perversidade, apostando no corporativismo para se favorecerem, além de colegas suplentes com potencial de voto. Os vereadores, assim, nocautearam o Tribunal Superior Eleitoral, que determinara o corte de quase nove mil vagas em todo o país em 2004.

O que torna as quatro cidades diferentes de Santos, fora a reação popular, é que a resposta do eleitor teve como um dos alicerces a Internet, via redes sociais. É uma nova forma de praticar política, eventualmente conectada com entidades de classes, mas de costas para partidos e seus interesses.

O fenômeno se desenrola há meses, com uma série de protestos organizados via virtual. As causas são múltiplas. Da liberdade de expressão à descriminalização da maconha. Dos protestos contra o machismo e a violência doméstica à repulsa aos corruptos de Brasília. De pedidos pela saída de Ricardo Teixeira da CBF à construção de conjuntos habitacionais.

Em vez de grandes manifestações, marchas e caminhadas com um número menor de pessoas, mas com lutas específicas. A exceção é a Parada Gay que, embora em caráter festivo, não deixa de ser um evento político.


Não se sabe ao certo o que acordou o gigante. O que se percebe é o uso efetivo das redes sociais para a consciência coletiva. É claro que muitas das pessoas envolvidas seguem inertes nos teclados e se limitam a “curtir” ou repassar a mensagem. De certa forma, representa um avanço diante da despolitização cadavérica dos últimos anos. Repassar uma mensagem implica, ao menos, que o sujeito teve contato com ela e pôde refletir sobre o problema.

As redes sociais, como instrumento político, são uma arma contra os oportunistas de gravata e mandato. Por enquanto, um armamento leve, restrito a poucos campos de batalha, que torna primordial estabelecer mira cirúrgica para o próximo ano. Na Baixada Santista, os vereadores poderiam sentir que caminham com um ponto vermelho eleitoral na testa. A sensação de estar sob a mira do eleitor aumentaria os riscos para os anfitriões da farra.

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