"Jogamos como nunca, perdemos como sempre"

A Copa do Mundo não brinca com o destino. Nem com o peso da camisa. Por isso, há seleções destinadas à derrota. Por mais que lutem e que gerem simpatia pelo espírito combativo, nasceram para morrer. A tradição é orgulhosa e conspira contra estes times. Conspira da maneira mais cruel possível ao alimentar a esperança de que estas equipes podem fazer parte da elite, quando – na verdade – deseja que permaneçam em papéis secundários.

Na África do Sul, três seleções chamaram a atenção pelo quase, pela euforia de um desempenho acima da média, mas sabotada na hora de subir para o telhado. É a dor remoída de quem sabe que poderia estar na fase seguinte, fez por merecer, mas foi eliminado por causa de um gol. Marcá-lo ou não tomá-lo? Eis a diferença.

O Paraguai comove. Em 1998, foi o adversário mais difícil da França, que ficou com o título. Os franceses jogavam em casa. O Paraguai tinha um ataque medíocre e uma defesa quase perfeita. Durante 125 minutos, o goleiro Chilavert mais o lateral-direito Arce e os zagueiros Gamarra e Ayala operaram milagres para conter o ataque francês. Gamarra jogava com o braço machucado, o que lembrava Beckenbauer na semifinal contra o Uruguai, em 1970.

Naquela partida, pelas oitavas-de-final, Gamarra e Ayala cansaram de ensinar aos franceses a arte do desarme, sem violência. Quando isso não acontecia, Chilavert mantinha o gol paraguaio virgem. A cinco minutos do final da prorrogação, Blanc marcou o gol da vitória da França, após confusão na área.

Nesta Copa, os paraguaios quase mataram os espanhóis. Quase! Perderam um pênalti. A Espanha perdeu outro. Os paraguaios sofreram um gol a sete minutos do final. Na seqüência, Casillas fez duas defesas que salvaram a Espanha. Para os paraguaios, outra derrota perto do fim.

O México é mais um time fadado à morte pelo caminho nas Copas. Chegar às oitavas-de-final é tradicional. Daí em diante, algo paralisa os mexicanos. O time trava e não consegue avançar. Contra os argentinos, tudo deu errado para o México. Gol impedido, falha grosseira de um zagueiro, fatos que derrotam qualquer entusiasmo para romper uma sina.

As exceções foram os Mundiais de 1970 e 1986, que a seleção passou à etapa seguinte. Nos dois casos, as competições ocorreram no México.

Quem também perde o rumo, mas com um adversário específico é o Chile. E, neste caso, o carrasco é brasileiro. No futebol recente, os chilenos passaram às oitavas em duas ocasiões: 1998 e 2010. Em ambas as situações, o adversário era o Brasil. O Chile vinha de boas campanhas, que incomodaram seleções teoricamente mais fortes. Nesta Copa, por exemplo, os chilenos venceram as duas primeiras partidas e perderam para a Espanha por 1 a 0, resultado talvez injusto.

Diante do Brasil, o Chile assume a condição de freguês. Morre antes da luta se desenhar. Dá a impressão que perde de véspera. È goleado como se fosse a Venezuela. 4 a 0 em 1998. 3 a 0 na semana passada.

O que acontece com estas equipes, que se alimentam de esperanças e não conseguem superar seus traumas? São times escravos da história? Seleções que lutam, lutam, mas que – inconscientemente – se sabotam na hora H? Ou são vítimas do jogo de dados dos deuses do futebol, que brincam com a sorte da organização das chaves? Dados que reprisam o mesmo desfecho melancólico, porém coerente com o passado.

As perguntas sempre fascinam mais do que as respostas, principalmente quando desconhecemos as saídas. Talvez estes times vivam um círculo vicioso de fracassos, que impossibilite ter uma camisa tradicional. Talvez pese a timidez da técnica diante de oponentes tradicionais, com quem terão que cruzar quando o torneio se afunila. Talvez os jogadores não resistam ao medo do desconhecido, de avançar para uma nova vida. Ou talvez estas seleções estejam contentes com o lugar que ocupam. Coadjuvantes existem para que os protagonistas sejam o que são. Nenhum mal nisso.

O próximo alvo da maldição do quase, nestas semifinais, pode ser a Espanha. A camisa vermelha sempre foi acusada de encobrir um tom amarelo. Sempre na lista de favoritos, a seleção espanhola costuma morrer pelo caminho, entre as oitavas e as quartas-de-final.

A atual campeã européia está nas semifinais depois de 60 anos. Do outro lado, a Alemanha, com a camisa branca que empalidece os adversários. Os espanhóis foram longe demais?

Especulações e teorias à parte, as “seleções do quase” quase sempre vivem os jogos mais dramáticos dos Mundiais. Fazem jus ao clichê do sangue, suor e lágrimas. E geram posterior choque e misericórdia com a eliminação precoce. Aí sim são as protagonistas, ainda que de uma página par dos livros de História.

Em tempo: o título deste texto é inspirado na manchete de um jornal mexicano. No dia anterior, o México fez uma partida maravilhosa contra o Brasil, mas perdeu por 3 a 2, ao levar um gol no finalzinho.

Comentários

alano_luiz disse…
Belo texto professor, nesta copa penso que o ensinamento máximo para todo os brasileiros é compreender que o futeol como uma expressão cultural tão cultuada por nós, têm que ser pensada dentro de uma visão de competição e cooperação tanto nas vitórias quanto nas derrotas antologicas, como estas narradas no texto.Um abraço Marção...
VH disse…
TODO ESTA OK, APENAS O TEXTO APARECEU DEPOIS DO JOGO MEXICO X ALEMANHA