Fabião: o novo "Marina Silva"?

O vereador Fabio Antunes (PSB) assume nesta terça-feira, dia 9, o cargo de secretário de Meio Ambiente de Santos. A mudança no comando integra a reforma administrativa promovida pelo prefeito João Paulo Tavares Papa (PMDB), na passagem de ano. A reforma é a resposta às alianças políticas da última eleição.

Acompanho, à distância, a carreira política de Fabião, desde a primeira candidatura ao Poder Legislativo. Na verdade, o conheci como professor de Biologia, um sujeito interessante, competente e extrovertido no cursinho do Colégio Objetivo, onde frequentei o intensivão (três meses de aulas), no início da década de 90.

Fabião sempre carregou a bandeira ambiental, antes dela virar discurso de ocasião de líderes políticos e empresariais ou pose de classe média e seu ambientalismo de shopping center. Na primeira vitória eleitoral dele, em 2000, o então professor foi coerente com seus princípios, numa campanha barata, pouco poluente, porém eficaz. Ele desfilava de bicicleta, com um banner na garupa, pela orla da praia e bairros próximos. Muita conversa nas ruas, pouco papel emporcalhando as calçadas.

Quando se elegeu, Fabião se mostrou um combativo opositor à gestão municipal. Mas, no governo Papa, transformou-se em situação quando o PSB virou a casaca e aderiu ao governo, assim como vários partidos. No total, 19 siglas apoiaram a candidatura à reeleição do atual prefeito. Um trem da alegria, com cheiro de interesses particulares e pouquíssima preocupação com o debate coletivo em torno da cidade. Uma postura que se aproveita das falhas do processo democrático e que perde, na Baixada Santista, somente para São Vicente, onde ser oposição é sinônimo de artefato arqueológico.

Fabião, favorito para a Secretaria de Ciências e Tecnologia, ideia que nunca passou da retórica política, tem a oportunidade de colorir de verde uma cidade cada vez mais cinza. O vereador, histórico militante ambiental, terá – pela primeira vez – poder efetivo para implementar uma política consistente, de longo prazo, para o setor.

Se mantiver a coerência política, Fabião será a ovelha negra do Governo. O grupo que gerencia a cidade há 13 anos está claramente deslumbrado com o “surto de desenvolvimento”. Esse frenesi ainda não rendeu frutos estruturais, vive das projeções estatísticas e dos discursos nas tribunas e nos microfones.

O crescimento imobiliário modificou a paisagem de vários bairros, aqueceu certos setores da economia local, mas não caminha acompanhado de uma alteração visceral na infra-estrutura, que necessita de resposta tão rápida quanto cada andar que desenha os mais de 60 espigões que brotam em Santos.

O novo secretário de Meio Ambiente vai enfrentar, com o minúsculo orçamento de sua pasta, um adversário mais poderoso do que a especulação imobiliária ou o sonho dos royalties do petróleo brasileiro. O maior obstáculo para Fabião é a mentalidade que permeia esta euforia em torno do crescimento desordenado.

É um pensamento, com data de nascimento na Europa do século XIX, profunda influência na postura dos políticos brasileiros a partir do Império, e solidificado no século seguinte. Hoje, é quase um pensamento único, que manifesta horror quando contestado e que despreza os focos de resistência, como os ambientalistas.

A mentalidade vigente é a do progresso a qualquer custo. A ideia de que crescer é estimular e executar grandes obras, inclusive no quesito visibilidade. O pensamento de que o concreto, o cimento e as vigas são o símbolo maior de desenvolvimento econômico. Neste sentido, a vocação turística ficou em segundo plano. E a preservação ambiental representa atraso, um empecilho para o progresso sem limites. O verde mancha o cinza!

De cara, o novo secretário sofre pressão da classe média alta, encantada com a coleta seletiva de lixo, medida paliativa que soa como um analgésico para os que desejam aliviar a consciência diante do consumismo. O serviço, hoje semanal, não dá mais conta da demanda e é abaixo do que se espera de uma cidade como Santos.

Só que o problema maior está justamente no impacto das alterações recentes no município. Os danos ambientais causados pelo trânsito, com oito carros novos por dia nas ruas. A cidade tem, proporcionalmente, a terceira maior frota do país. O porto de Santos, poluidor pela ausência de esgoto e pelo despejo da água de lastro, para ficar em dois exemplos. O aumento no consumo de água. O crescimento na produção de detritos, como lixo e esgoto.

Fabião, aparentemente, está diante de uma encruzilhada. Ou segue o caminho tradicional, no qual a Secretaria de Meio Ambiente pouco interfere na política da cidade e seus projetos. Ou se torna uma pedra no sapato do prefeito, com projetos e ações efetivas para colocar a agenda ambiental no mapa das discussões. Abrir mão da coroa de rainha da Inglaterra significa comprar briga com outras pastas da Prefeitura, com empresas e com setores da sociedade civil, tradicionalmente conservadores e militantes da cultura do concreto.

Se optar pela segunda alternativa, Fabião poderá se tornar a Marina Silva do Governo Papa. Ganhará vitrine política, mas perderá o emprego. Só espero que o novo secretário não tenha o mesmo destino dela, incinerada pelos colegas e pelo próprio chefe, que se veste de cinza aqui dentro e de verde no exterior.

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