O narrador de Guga


Nunca o vi pessoalmente e há dois anos não ouvia falar dele. Mas, agora há pouco, soube da morte do narrador Rui Viotti, de 79 anos. Acompanho tênis há mais de duas décadas e me lembro da voz sóbria dele nas transmissões do Circuito Vat 69 Cup, dos jogos de Luiz Mattar em Itaparica, na Bahia.

Atualmente, não passo um dia sem ler o noticiário segmentado de tênis. De vez em quando, tomo coragem e enfrento os vexames com os amigos nas quadras. Em parte, a responsabilidade é dele, que defendia com fervor o desenvolvimento do tênis nacional (esporte que sempre poderia ter sido) e me deixava com vontade de apanhar a raquete e a latinha de bolas.

Em 1997, lembro-me - na redação do jornal Folha de São Paulo - quando Rui Viotti foi escalado para narrar o torneio de Roland Garros. O Aberto da França seria disputado por um catarinense revelação, número 66 do ranking mundial. A transmissão das partidas coube à extinta rede Manchete, que andava moribunda e aceitava qualquer atração na sua grade, desde que o custo fosse baixo. A audiência era proporcional.

Quando o tênis estava em plano terciário nas editorias de esporte da imprensa nacional, Viotti entrou para a galeria das testemunhas oculares de feitos históricos. O narrador transmitiu a vitória de Gustavo Kuerten sobre o espanhol Sergi Bruguera. Era o primeiro da série de três títulos de Grand Slam do maior tenista nacional.

Viotti, um tenista amador, foi pioneiro nas transmissões da modalidade na TV. Acompanhou a final de Wimbledon em 1976 pela rede Globo. Depois, trabalhou para Record e Bandeirantes, ligado à empresa de eventos Koch Tavares.

Mineiro, começou no rádio em Caxambu como locutor aos 15 anos. Passou por emissoras maiores e chegou à Globo no início da década de 70. Lá, dirigiu o departamento de Esportes, foi um dos criadores do programa Esporte Espetacular e cobriu a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha.

O narrador estava internado há alguns dias, segundo o site TenisBrasil, de uma doença não-diagnosticada. Os médicos optaram pelo coma induzido. Ele não se recuperou. Viotti foi sepultado ontem, 7 de setembro, no Cemitério da Vila Alpina, em São Paulo.

Em tempos de narradores espalhafatosos, ávidos por falsas polêmicas e bajuladores de dirigentes e técnicos, Viotti rebatia contra o vento, pois primava pela informação, sem parecer enciclopédico, professoral ou arrogante. Este ano, ele narrou vários torneios de tênis, nacionais e internacionais, para o canal BandSports.

Rui Viotti, obrigado pela discrição, seriedade e respeito com que tratou os espectadores e fãs de esportes. São qualidades diferenciadas (antes, vistas como obrigação) em um momento que análises pontuais e especulações se transformaram em combustíveis do esporte como show, como negócio para enganar os que acreditam em patriotismo de boutique.

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