"O palco não me diz respeito"

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A diretora Maria Tornatore coleciona prêmios. Neste ano, no 50º Festival Santista de Teatro Amador, a peça “Nossa Vida como Ela É” ganhou em cinco categorias: melhor espetáculo adulto, direção, ator coadjuvante (Luciano Andrade), atriz coadjuvante (Luciana Sousa) e menção honrosa para o elenco. Além disso, Tornatore venceu na categoria melhor atriz em peça infantil (“O Segredo da Princesa Alumínia”).

Tornatore retornou aos festivais após briga com membros da classe teatral. “Voltei porque era uma data comemorativa. E fiquei feliz ao ver três pessoas que atuam em festivais internacionais dizerem que Santos tem agora estética teatral. No passado, outros disseram que a cidade não tinha nada.”

Com 35 anos de carreira, entre dança e teatro, ela é vista como uma diretora exigente no controle dos espetáculos. E crente no teatro amador como liberdade. Em entrevista, Maria Tornatore explicou porque busca novos espaços para o teatro que, segundo ela, deve lutar contra a redução da arte ao lucro.

Boqueirão: Você encenou o espetáculo Alemanha em um armazém do Porto de Santos. Trabalhou na Encenação da Chegada de Martim Afonso, em São Vicente. Agora, um casarão centenário no centro. Como o espaço funciona para você?
Maria Tornatore: Teatro não acontece sem espaço. E há o espaço da ficção, que só tem sentido quando é adequado. O palco tradicional, com distanciamento entre ator e platéia, não me diz mais respeito. Só trato quando obrigatório. Espetáculo é lado-a-lado, frente-a-frente. Não vejo mais público parado. Apenas se mexendo. Não volto mais para o palco tradicional. Não consigo.

Boqueirão: O casarão é ao mesmo tempo instalação e personagem?
Maria Tornatore: Exatamente. A casa é personagem quando trato dela como se fosse minha. Ela vive através das pessoas. A casa foi estudada como instalação. O público, além de sentir, também é ator. O público ajuda a vestir o personagem, escreve bilhete, bate à máquina de escrever, faz tudo isso aqui dentro.

Boqueirão: É a evolução do Grupo Taetro de Teatro, que completa 10 anos?
Maria Tornatore: É uma mudança. Para mim, tudo que você vê na rua está aqui dentro. O espetáculo é caótico, mas também cronometrado. A peça é um shopping center. É o que o público quer. Ele quer consumir. Então, vamos trazê-los para consumir. O problema é que as pessoas não conseguem ver a vitrine toda. O espectador pós-moderno não se encaixa no espetáculo tradicional. Trago a crítica a eles: - Não façam isso. Ou façam. Não há verdades. Os atores amadores querem estar na Indústria Cultural, mas não estão. Querem fazer sucesso, mas não fazem. Quero trabalhar com esses. Os que fazem sucesso estão perdidos.

Boqueirão: Você disse que existem atores de verdade e atores de mentira. Qual é a diferença entre eles?
Maria Tornatore: O ator de mentira vive na ficção da ficção. Ele acha que será alguém porque fez uma ficção. Vamos deixar claro. O ator que busca sucesso vive também uma vida de ficção. Não descobriu que a vida é fazer teatro de verdade. O teatro de R$ 10, de pobres. Essa idéia não pode ser comprada por um ator de verdade. Ele pode reconhecê-la. Tem que força e consciência para sobreviver. Arte é crítica da arte. A arte não pode cooperar com o sistema atual. Não gosto de leis de incentivo, de projetos encostados em secretarias. Isso acomoda. Que tenha um espectador, faço para ele.

Comentários

Anônimo disse…
o correco na atriz coajuvante é JULIANA SOUZA
Vitty's Deodato disse…
Grande maria ou melhro como posso chamala querida professora mto querida por todos ao seu redor te adoramos mto