Renascidas para morrer

A inclusão na grade curricular das disciplinas Filosofia e Sociologia indica novamente como é explosiva a combinação entre política e educação. Isso significa, em tese, uma reação diante de críticas negativas sobre os rumos do sistema educacional, ao mesmo tempo em que não se vê compromisso com os efeitos práticos sobre o cotidiano de escolas, professores e alunos.

A escola atual é desinteressante. Poucas disciplinas atraem a atenção dos estudantes, tampouco os fazem refletir sobre o mundo em que vivem. Normalmente, os alunos estão expostos a uma quantidade brutal e, muitas vezes, inútil de conteúdos, sentindo-se obrigados a decorar fórmulas, memorizar conceitos e equações, absolutamente desconectados entre si.

Em princípio, as disciplinas Filosofia e Sociologia, que retornam ao currículo escolar, poderiam fazer o papel de aguçar o pensamento crítico do alunado. No entanto, a proposta esbarra em uma série de obstáculos que pouco importou para os parlamentares no momento em que aprovaram a legislação. Os políticos têm a obrigação de analisar as conseqüências dos atos que praticam e, acima de tudo, dialogar com a sociedade sobre as leis que votam no Congresso Nacional.

O retorno da Filosofia e da Sociologia às escolas é mais um sintoma de como se enxerga a educação brasileira. Os gestores (palavra da moda!) apagam sucessivos incêndios sem uma política de longo prazo, baseada em planejamento e respeito à diversidade cultural nacional. Quando as críticas de tornam contundentes, a reação é inchar o número de disciplinas nas unidades escolares, visando transmitir a ilusória sensação de um currículo rico e dinâmico.

Na prática, não é o número de disciplinas que eleva as chances de sucesso no aprendizado, e sim as formas como as matérias dialogam entre si. Termos como interdisciplinaridade e eixos temáticos precisam ser adotados como ações cotidianas. Normalmente, as matérias não “conversam” umas com as outras, o que implica em conteúdos repetitivos ou isolados do contexto contemporâneo.

Como os professores serão preparados para dar as “novas velhas” disciplinas? A capacitação dos docentes é fundamental não só pela natureza reflexiva de Filosofia e Sociologia, mas pelo caráter ideológico que permeia os conteúdos. A escolha ideológica será explícita? Com base em quais critérios? Até o momento, as políticas educacionais simplesmente ignoram a perspectiva ideológica como se o impacto desta abordagem no ensino não gerasse conseqüências sobre a mentalidade dos alunos.

Fora estes fatores, Filosofia e Sociologia ressuscitaram mortas na grade curricular. Ambas entrarão no rol das matérias “malditas”, isto é, aquelas que – no dia-a-dia – não reprovam, não exigem maior dedicação e que serão dadas nos horários mais ingratos. Se as equipes pedagógicas, aliadas aos professores das outras disciplinas, não se dispuserem ao diálogo, os docentes de Filosofia e Sociologia literalmente pregarão no deserto de uma sala de aula.

Mas os políticos insistem nas fórmulas demagógicas. Os parlamentares ameaçam prosseguir na cruzada de entupir o cotidiano escolar com novas disciplinas. O Congresso analisa, em âmbito das comissões, o projeto de lei que ressuscita a disciplina Psicologia nas escolas brasileiras. Novamente, o debate não existe. Onde encaixar mais uma matéria no universo de um aluno adolescente?

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